sexta-feira, 16 de setembro de 2016

A pessoa com deficiência na minha história de vida



Minha história com a deficiência é bem antiga...

Morava quando criança em um prédio de apartamentos e meus vizinhos de cima, um irmão e uma irmã, tinham síndrome de Down. Naquela época, chamávamos de mongoloides, pelos olhos puxados, característicos...O Zé e a Mara* já eram adultos, estudavam na APAE e trabalhavam...Sua mãe era bem idosa...Quando ela faleceu, foram viver com uma irmã mais velha.

Neste prédio também morava a Carla, que devido a um câncer no útero de sua mãe durante a gravidez, veio a nascer com deficiência física. Seus membros de um lado do corpo eram mais compridos que o outro... Sua mão direita não conseguia pegar direito a bola, ela ajudava com a esquerda...Não corria tão rápido, mas nunca desistia de correr ou de brincar...

Em minha família, há 20 anos, nasceu o Kevin, que tem deficiências múltiplas: não fala, não anda, não se senta, mas sente...E muito! Sabemos do que gosta e do que não gosta...Ele adora conversar...E assitir televisão! E iogurte! Detesta carinho no cabelo e doces...

Já professora, ministrei aulas para três alunos com deficiência auditiva, oralizados, que liam lábios. Ministrei aulas para um garoto com deficiência intelectual, que adorava compor músicas...Eu explorava este fato em minhas aulas, para conseguir atingi-lo...Ele sofreu um acidente de carro quando bebê e foi salvo por sua irmã de 5 anos...Seus pais morreram na hora e ele acabou perdendo metade do cérebro. Se formou no ensino médio e compôs uma música para os amigos, que tocou e cantou durante a cerimônia...

Quando me tornei professora do IFSP, em Catanduva, participei de uma vivência sobre o tema, junto com servidores e alunos da Licenciatura em Química. O Professor de Física, Manoel, teve suas pernas amarradas junto a uma cadeira de rodas, tendo inclusive jogado basquete. Eu fui vendada. Guiada pela minha aluna Valentina, andei por todo o Campus de bengala, me alimentei, fui ao banheiro, dei aula, sem saber se era dia ou noite, só pensando, com toda a minha ignorância recheada de pré-conceitos: E se eu tiver um aluno nessa condição? Como um cego pode aprender Química, uma ciência tão visual? Minha cabeça fervilhava...Não estava preparada! Tinha que fazer alguma coisa!

E troquei a tese Doutorado que cursava...De "Vidros Especiais com aplicação em spin-trônica" para "Ensino de Química para Pessoa com Deficiência Visual..." Encontro-me atualmente na fase de redação de tese!

*Os nomes das pessoas desta história foram modificados, para preservar sua identidade...

Quem sou eu?

Meu nome é Juliana Barretto de Toledo e sou Professora de Química do IFSP  há quase 5 anos...Atualmente, trabalho no câmpus Matão, onde leciono para os cursos de Licenciatura em Química, Tecnologia em Alimentos e Tecnologia em Biocombustíveis.